quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Encontro com jovens leitores

Na semana passada, estive com a escritora Sônia Travassos, na Biblioteca Popular de Irajá, na Zona Norte do Rio, para participar do projeto Encontro com Jovens Leitores, que está em seu quarto ano consecutivo promovendo a aproximação entre escritores, ilustradores e estudantes da rede pública. Projeto coordenado pela Ninfa Parreiras, minha professora na oficina literária da Estação das Letras desde 2011, que nos convidou.

Sônia leu seu livro Bichos Papões da Escola 


A Sônia é doutoranda em Letras e, há quase 30 anos, professora da biblioteca da EDEM, onde meus sobrinhos estudaram. Essa escola que realiza uma festa literária bienal aberta ao público externo que é imperdível. Penso, pelo que acompanho tem um projeto pedagógico atento à formação do leitor crítico.

Sou mó fã da Sonia. Ela tem três vezes mais do que eu tenho em livros publicados e dez vezes mais contato com seus leitores. Admiro os seus livros e o seu jeito envolvente de escrever para as crianças e de ser mediadora entre os livros e elas. Quando a Ninfa me perguntou se eu topava ser sua dupla no projeto, logo pensei: me dei bem!!





Levei o meu Canoa para presentear os estudantes. Foi a primeira vez que ouvi o poema ser dito por jovens. Cada um leu um verso, que terminou deixando dois meninos de fora porque tinha mais meninos do que versos. 

Então um dos que "tinha sobrado" pegou o livro e disse: vou reler o que mais gostei. 

O outro menino também folheou e escolheu o seu preferido. 

E  um por um, todos foram pedindo para dizer o verso de que mais tinham gostado.

O poema foi se reescrevendo. Eles iam folheando para a primeira página e para a última. Depois, queriam escolher as páginas inteiras, com as ilustrações da Carla.

Gosto de contar que esse livro foi escrito no meio do expediente, e teve início com uma dúvida juvenil que eu tinha na época, embora já fosse adulta: "Com quantos beijinhos virou namorada?".

O poema que significou uma realização gigante, o começo de uma trajetória profissional tão sonhada, que me deu tantas alegrias... ainda vai me dar muitas outras - ali tive certeza.







Um poeminha que surgiu no meio de um expediente de trabalho totalmente sem pretensão de morar em estante de livraria, escalou altas prateleiras. Outro dia eu soube que ele ganhou o mundo. Minha amiga Christiane Britto, a Nane, com quem, nos anos 80, eu cometia a aventura de ir à praia de ônibus no meio de um dia de aula, e que hoje mora na Suécia, contou que a filha dela disse que quer trabalhar em biblioteca quando crescer.

- Mas você quer arrumar os livros ou contar as histórias? - perguntou a mãe.

-Nãaao!... Eu quero escrever os livros!, respondeu a pequena leitora, de quatro anos.

A Nane pegou o meu Canoa, explicando que uma amiga dela fazia "isso". Mostrou o livro pra ela e leu.

Os meninos de 16 na escola, a Valentina, de quatro. Curtindo o mesmo livro. Cada vez me convenço mais de que existem livros que não devem ser categorizados como livros para criança.