segunda-feira, 28 de outubro de 2013
A falta de sentido
Não têm sentido as contas, os contos, os deadlines, as revisões, as reuniões, a oficina, o pilates, a análise.
Não têm sentido acordar, tomar banho quente, passar hidratante, colorir as unhas, aparar as pontas.
Não tem sentido assinar cheque, ligar pro cartão, discutir com o gerente, processar a Net, entrar no Facebook, comprar fruta, tirar xerox, mandar e-mail.
Nem o prazo pra entregar tem sentido.
Nem tirar certidão. Nem autenticar.
Nem madrugar. Nem não dormir.
Não tem sentido o projeto. Nem o outro lançamento. Nada.
Não tem sentido novembro.
Não tem sentido dezembro.
Há uma inutilidade desconcertante que está me esmagando hoje.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Minhas memórias de Lá no Meu Quintal
Lá no Meu Quintal, meu segundo livro, ficou pronto em menos de três meses, graças à parceria de duas pessoas a quem preciso agradecer. Agostinho Ornellas e Luciana Bastos Figueiredo. No dia 01 de julho de 2013, mandei um e-mail para o Agostinho, meu colega ilustrador da oficina de literatura infantil e juvenil da Ninfa Parreiras. Mal nos conhecíamos, mas achei que tínhamos que escrever um livro juntos depois que ele deu uma palhinha de como era sua infância no quintal de sua casa. Imaginei logo as aquarelas que ele faria e sonhei com este livro que ficou pronto dois meses depois. Sim, é por causa do meu desejo de ter um texto aquarelado pelo Agostinho que esse livro existe. Depois de sonhar, comecei a me perguntar como iria escrever uma história que não era minha. Nem de verdade nem de mentira. Tá, morei numa casa com quintal, mas há mais de 30 anos me mudei de lá. Resolvi fazer uma "entrevista" com ele, mandei o email, já pedindo desculpas.
"Agostinho, vou começar confessando que
estou rindo só de imaginar você lendo essas perguntas e pensando "A Sol é
maluca". Bom, hoje, inclusive, acho que acordei um nível acima...mas aí
que estou "canalizando" a loucura para a literatura e,finalmente,
envio as perguntas para começarmos nossa história a quatro mãos. Pensei no
título "Meus morcegos e nossa amendoeira".
O que acha?
Quanto às respostas, lembre-se
de que você pode responder tudo da sua cabeça de escritor. Portanto, nada de
respostas curtas. Preciso de material. Proponho que você me entregue até dia 14
de julho. D´accord?
Qualquer desistência, me avisa,
mas não tem mais a desculpa de que você está escrevendo tese...hahaha
1- Conte-me como você descobriu a amendoeira.
2- Deu um nome a ela?
3- Como começou “a amizade” de vocês?
4- Você costumava conversar com
ela? Sobre o quê? Acha que ela o ouvia? Que tipo de resposta ela te dava?
5- Me conta como era sua rotina (ia pra
escola, fazer dever de casa, jogava futebol, morava com quem, tinha irmãos,
brincava com eles, de quê, já gostava de desenhar e o que gostava de desenhar?)
6- Descreva sua casa e o quintal onde
ficava a amendoeira.
7- Você chegou a pesquisar sobre
amendoeiras? Ou sobre árvores? O que descobriu sobre as amendoeiras ou as
árvores em geral nestas pesquisas?
8- Quando foi que você descobriu os
morcegos que moravam nela?
9- O que sentiu quando viu os morcegos e
descobriu que tinham feito da árvore sua morada?
10- O que as outras pessoas pensavam da amendoeira?
11- O que as outras pessoas pensavam dos
morcegos?
12- Você chegou a pesquisar sobre os
morcegos? O que descobriu sobre eles?
13- Seus morcegos tinham nome? Você sabe
se eles eram um casal?
14- O que você observou neles que te
impressionou?
15- Você tentava capturá-los? Se não, por
que não?
16- Se sim, para quê?
17- Tinha medo deles?
18- O que fez para combater o medo?
19- Na sua opinião, eles eram uma ameaça à amendoeira ou tinham direito a ela tanto quanto
você?
20- Você tentou desenhá-los?
21- Conte-me o episódio em que a
árvore foi derrubada.
Dei sorte. Ele topou!!! E para encurtar, essa história teve final feliz! Obrigada, querido! Muito obrigada de coração. Esse livro é seu, muito seu.
Aí entra a Luciana Bastos Figueiredo. Minha amiga desde sempre. Amiga dos meus sonhos, dos meus escritos. Em 2000, me lembro que a Lu ainda era estagiária da Casa da Palavra quando entreguei, à Martha Ribas, editora de lá, o texto "Doroteia cheia de ideia" para avaliação. Num outro dia, estive na editora para alguma coisa e topei com a Luciana, que me disse: "Li seu texto e adorei". Esse texto ainda não saiu da gaveta, mas nunca esqueci o incentivo. Aí, no decorrer desses 13 anos, encontrava a Lu na praia, nos sambas, em feiras de livro ou almoçando perto da Rocco, onde ela trabalhou como editora de livros para crianças e jovens. Luciana editou, em 2011, meu primeiro livro na Gryphus. Luciana recebeu o texto de "Lá no Meu Quintal" logo depois da Flip, no comecinho de julho de 2013, há pouco mais de três meses. Não sei quantos dias ela trabalhou até altas horas da madrugada, que esforços ela fez, quantos fins de semana ela sacrificou para que este livro ficasse pronto até o fim de setembro. Ela nunca me deixou apreensiva, nunca passou adiante nenhuma dose de sua preocupação. No domingo, quando cheguei em casa, li o livro todo, acompanhado pelas ilustrações do talentoso aquarelista que escolhi para mim. Sou uma sortuda, só digo isso. Luciana Bastos Figueiredo é a melhor editora que eu poderia querer para qualquer livro meu. Obrigada, Lu. Eu te disse em Paraty, antes desse livro pensar em existir: onde eu estiver falando sobre os meus livros, daqui cem anos que seja, seu nome será sempre mencionado com o maior orgulho e a maior admiração. (As fotos foram postadas no álbum do evento, no Facebook pela Luciana.)
Ilustrador foi a inspiração para o personagem do livro
Luciana: editora preferida também lançou um livro dela
Nosso Quintal povoado de tanto amor que nem sei...
Marília, Edna, Lu, Andrea e Sandra: para quem pode
Sobrinho danado de lindo clicados pela Marilia Pirilo
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
O gato
Esse meu gato bonito
Por tudo o que faz e não faz
E que por nada me ama
E só de amar é capaz
Esse meu gato valente
Tem um segredo no peito
Para ter cama e carinho
Tem que me adorar direito
Esse gatinho safado
Que não me deixa dormir
Faz concerto de miado
Não tenho pronde fugir
Essa balada noturna
Ainda acaba comigo
Se não fosse tanto amor
Eu diria que é castigo
Pior foi que a serenata
Durou até de manhã
Melhor aceitar o fato
Dormir hoje: só amanhã
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Colo de mar
Caminho de lá, louco e longe
Nas trilhas
com vagar danço
Um olho em
todo o lugar
O outro a mirar
defronte
Colo o
ouvido no mar
Colho a espuma
Escolho a
pérola
Brinco de
anel e colar
Do mar ecoam enredos
Evocam
prantos de estrelas
Cavalos
marinhos gracejam
Revelam das
ondas os medos
Da ilha a
gaivota aponta
Fundo à
vista
Feixe
esconde peixe
O silêncio
não conta
Desponta cor
de laranja
Horizonte do pé a ponta
Janaína desponta o Sol
Maré se recolhe, tonta
Vento
anuncia a noite atracar
Já tantas
estrelas postas
Uma concha
a me aninhar
Ouriço a me
coçar as costas
Navios não
me verão partir
Para longe
do mar como antes
Salgado rio
gigante
Caminho de cá, louco e longe
(outubro de
2013)
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Adivinha do tempo ao vento
O tempo perguntou se o vento podia levar pra
longe toda a dor que há no mundo
O vento respondeu ao tempo que enquanto houver vida
no mundo haverá a dor
O tempo perguntou se o vento podia levar pra
longe toda a solidão do mundo
O vento respondeu ao tempo que enquanto houver homens
no mundo haverá a solidão
O tempo perguntou se o vento podia levar pra
longe toda a ingratidão do mundo
O vento respondeu ao tempo que enquanto houver coração
no mundo haverá a ingratidão
O tempo perguntou se o vento podia levar pra
longe todas as pedras do fundo
O vento respondeu ao tempo que as pedras construíram
versos
Dos poemas que há no mundo
O vento perguntou ao tempo quanto tempo o vento
tem
O tempo respondeu ao vento que o vento tem muito
tempo
Em quanto tempo ele vem?
Se ele não vier com o vento
Eu invento enquanto
é tempo
Outro tempo pro meu bem
(2003 - Para Marina, irmã mais bonita que eu podia querer)
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