sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Poesia no Parque da Ruínas

Sarau de amor
Porque amanhã é sábado
Vinicius merece
Nós merecemos
Vocês também merecem
Venham!




quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Desentendido

Então, Deus, é verdade que todo mundo parte?

Os amigos tão cedo
Os outros mais tarde

Pra essa dor latente
(mãe da dor de dente)
Que é saber da partida de um amigo querido de
Um mais do que querido amigo da gente
Não há poema que fique bonito

Então, ora, Deus, pra que serve a arte?

(Set 2003)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Não era outra vez


         Escureceu e Teca percebeu que tudo era uma vez. Só uma mesmo. Nunca podia ser duas vezes ou três, muito menos muitas. E tinha que ser uma de cada vez.
  
     Ela já tinha reparado que a segunda-feira também não chegava de novo, e até que isso ela achava bom.  Mas quando se deu conta de que o dia seguinte não era outro domingo, não danou a chorar. Ela era valente! Decidiu pagar pra ver.

     Aí disseram pra ela que o problema era do tempo das coisas. O tempo é que não deixava nada acontecer de novo. Disseram que o mar, a cada segundo, é outro mar. O mundo parece o mesmo, mas é outro mundo.

    - As pessoas também mudam um pouco todo dia, sabia?

    -  Só em livro é que o “Era uma vez” se repete?
 
   - Nem em história, garota! Nunca ouviu dizer que “quem conta um conto aumenta um ponto”? E se a sua avó lê um livro, a história não é a mesma contada pela sua mãe.

     Antes do dia ir embora, Teca resolveu falar com o Tempo.

     - Eu quero falar com Dez Para Meia-Noite.

     - Aqui não tem hora marcada. É por ordem de chegada.

     Teca viu o Tempo passando, e achou-o bem mais apressado do que quando passava pela aula de matemática. Ele não ficava parado e ela corria, corria, mas não conseguia alcançá-lo. Até que aproveitou um minutinho simpático e gritou:

     - Ei, Seu Minuto!

     Mas o danado voou. E veio outro, se aproveitando:

    - Que foi?

    Teca percebeu que eles eram quase iguais, mas não o mesmo.

   Vieram vários segundos, cada um de uma vez, cada um diferente do outro. E quando o dia estava quase indo mesmo pra sempre, ela se colocou na frente do primeiro minuto que se preparava pra entrar em cena e suplicou:

     - Ei, Seu Quase-Hoje, será que o senhor pode seguir o Quase-Ontem e fazer tudo igualzinho amanhã?

    Mas Ele já tinha escapulido.

   Teca se levantou da cama e viu, pela janela, que o Sol que tinha brilhado no domingo cedera lugar no céu a nuvens nunca vistas antes.

(set 2013) 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

De repente, pro Vicente

Que dia sensacional
É bem-vindo o meu amor
Não precisa mais chorar
Que a Titia já chegou

Esse aqui é o tal do mundo
Que você vai conhecer
Tem muita gente esperando
Pra ver e amar você

É tudo maravilhoso
Diferente e colorido
Nem tudo é organizado
Mas é muito divertido

Olha! O mar tem carneirinhos
E a água é refrescante
O céu tem mil estrelinhas
A lua é deslumbrante

Da mamãe e do papai
Não preciso nem falar
Basta só um minutinho
Pra você se apaixonar

O Tio Antoninho e a Lu
O Vô Béo e a Titia
Vão ser os melhores amigos
Do Vicente todo dia

E tem outro tio Antônio
Que vai morar bem pertinho
E tem a supertia Helena
Que vai cobrir de beijinho
E ainda a tia Clara
Que vai mimar o sobrinho

O seu bisavô Luís e a bisa Meire também
Serão os mais orgulhosos
Quando chegar o neném
E vão paparicar tanto
Não vai sobrar pra ninguém

E tem a vovó Vivi
Que é a mamãe da Titia
É sua também a casa dela
Olha só que alegria!

Não que lhe faltem vovós
Mas isso nunca é demais
O amor é multiplicado
Maré mansa pro rapaz

Uma muito especial
É a sua vovó Alice
“Vai ser sua grande amiga”
Foi um anjo que me disse

A sua avó Ludmila
está mais bonita, gente!
É por causa da alegria
Da chegada do Vicente

O pai dela é o bivô Gadi
Que você vai adorar
Senta lá no colo dele
Pruma história ele contar

Madrinha você já tem
Mas não é exclusiva não
No coração da Amália
Tem afilhado de montão

E quem é aquela gatona
Cheia de amor pra te dar?
É a querida Lelé
Dessa você vai gostar

E ainda nessa família tem gente muito importante
Tem uma trinca lindinha
Três colinhos interessantes
Elza, Mariana e Flavinha

O seu avô Edgard,
que te faltou conhecer,
é um cara tão legal...
Mas pra que time esquisito
Ele inventou de torcer!

Essa história de futebol
Não é nada complicada
Basta ser bom rubro-negro
O resto é bola furada

Há outras coisas legais
Nesse mundo de gente bamba
Mas como o poema é meu
Vou ter que exaltar o Samba

E também dizer que o livro
É um bom amigo do peito
Não adianta ser bonitinho
Se não usar a cabeça direito

Na mundo tem outro tanto
Que mais vale viver pra ver
Do que ficar só falando
E deixando a vida correr

E só para terminar
Eu tenho que confessar
Que felicidade de Titia
É difícil de explicar

De hoje e até sempre
Sua tia está aqui
E onde você estiver
E onde você existir

(agosto de 2009)

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A casa tomada

Ele entrou na frente. Ia segurando a mão da mais velha, e a mais nova dependurada no outro braço. Doía, acredito, pela expressão franzida que sua testa carregava. Logo atrás dos três pirralhos seguia eu. De tênis novo - novinho -, meu presente do Papai Noel.

         Ele estava cheio de si. Tinha cumprido o que prometera: a casa era nossa.

         – Eu pedi a biblioteca, lembra?, quando você me mostrou a foto – eu disse, com algum receio que não demonstrei.

         Como eu era o mais velho dos homens e ele me devia alguns favores, não houve o que objetar. Quando vi o tamanho do brinquedo, perguntei, mais uma vez, se ele tinha roubado. Mas ele disse que não, que comprou, e mostrou um papel. 
         – Quanto você pagou por ela?

         – Trinta bolinhas e duas bonecas.

         – A minha boneca? – perguntou Irene encrespada.
         – Não, aquela boneca sua era feia demais, ninguém ia querer.

         – Então qual? Já sei: a da Filó, a grande, e a que você roubou da Ritinha.

         Ele não disse que sim. Também não negou. Então nós quatro nos olhamos. A Filó olhou por cima dos óculos desproporcionais que ela usava. Mas a casa era grande mesmo e nós entramos para ver. Eu só queria ver os livros, não gostava mais de jogar bolinha de gude.

         Entramos tentando fazer o menor ruído possível. 
Filó colocou Irene no chão, que quase chorou, não fosse uma mão abafada a cobrir sua boca. Senti que nossa presença parou o ar. Assim, as coisas vivas (e estavam mesmo vivas) morreram quando nós passamos a habitar a casa. Quando chegamos e dominamos a nossa ala.

         Tudo então era nosso, o plano tinha dado certo e, agora, nós quatro éramos uma família com casa e tudo. Ainda tínhamos que crescer. E aí, ele se casaria com Irene. Eu me casaria com Filó.

         E já estávamos vivendo ali como se as horas fossem dias passados. Mas o que não esperávamos era o trabalho que dava viver em uma casa daquelas. A divisão das tarefas no que dizia respeito à limpeza dos cômodos não tinha sido planejada. E passávamos mais tempo a discutir quem faria o quê do que desfrutando de nossa propriedade.

         Ele, apesar de esperto , para fazer negócios, era um frangote que não dava conta de trabalhar pesado. Com o tempo, já discutíamos se ele deveria ter comprado aquela ala ou a outra que, pelo que eu me lembrava, aparentava ser maior.

         Para tomar a outra parte, era preciso entregar outro saco com 50 bolinhas e, aí sim, as bonecas da  Filó e da Irene.


         Aí não, as mulheres não aceitaram. Peguei Filó e fomos embora. Ele e Irene ficaram.
(2009) 

sábado, 21 de setembro de 2013

Alguém não viu a Lua?

O Tempo passou, o expediente da Noite acabou, mas o Sol perdeu a hora de dar bom dia. A lua estava cada vez mais... lunática. O astro-rei estava muito preocupado:
- Lua, pare com essa bobagem de se apaixonar a cada esquina por gente tão diferente de você.
Perambulando de um lado pro outro, a Lua só suspirava, sem nada responder ao Sol.
- Tatu não vê a lua... Tatu não vê a lua...
- Minha cara, isto é uma fase... Você já se apaixonou por essa Terra inteira e todas as suas paixões duraram apenas algumas noites. Além de terem sido tão frutíferas quanto são macieiras secas por mim.
- Mas esta é a primeira vez que me sinto assim, eu juro!... Dessa vez é diferente... Aquele Tatu vai olhar para mim!
- Você está cega, minha amiga!  Devia ter escolhido uma criatura mais atraente. O que você viu naquela casca dura e naquela bicudo com dente?
- Mais respeito com a minha dor, seu invejoso: o Tatu é ma-ra-vi-lho-so!
O Sol se pôs a rir. E nasceu mais um dia.
O Tempo passou. O expediente do Sol acabou. E a Lua, cheia e vistosa saiu para tentar flechar o seu alvo, escoltada por Vênus.  Os dois formavam uma dupla, que dupla! Como era domingo, a Terra parou pra ver o show celestial.
E eis que o Tatu também viu. E achou-a tão linda... deu uma vontade de chamar a companheira para contemplarem juntos aquela maravilha...
Ainda lá do alto, a Lua não reparou logo que o seu convidado preferido chegou à festa acompanhado por outra dama.  Exibiu-se toda!  Uma estrela meio apagada foi quem a provocou, com uma voz bem escovada.
- O Tatu está gamado, mas não é na senhora, não, Dona Lua! Veja quem está a seu lado...
A Lua ameaçou sumir e não voltar nunca mais, mas Vênus a encorajou a reparar em volta. Quem sabe a dor não ia embora?
- Pense bem, Lua! De amor eu entendo! Todo o povo está fascinado! Vá viver! Vamos aproveitar!
Parece que a Lua ouviu o conselho e antes de o Sol lançar seu raios matinais, se dizia pronta para viver um novo amor...

(setembro/2013)

Canto de encantar passarinho


Um dia o passarinho desapareceu de cantar.  O mais cantador da vila. Todo mundo queria. Até a Firimina e eu. O Nino, que era o dono, chorou. Mais de mansinho, um soluço quase mais desaparecido que o canto do passarinho.
Quando ele quis ver, Firimina mentiu. Disse para a vila toda que “o bichinho estava morrido, tinha sofrido nada, não, bobinho!” Mas enterraram no lá longe para aquela alma perdida não vir cantar e assustar a gente da casa. Foi aí que Nino não prendeu a resposta na boca. Soltou um grito tão alto que fiquei ouvindo por três dias.
-  Mas era tu que vivias dizendo que não gostavas dele, Firimina! Eu gostava que ele cantava pra mim!
Só que era mentira da Firimina. Foi ela que colou, com cola de marinheiro, o bico do pobrezinho. Deu nó nas asas e nos pés do passarinho. Cantar ele não podia mais!  Muito menos dar pulos de lado quando via o dono menino alegrado.
Depois da terceira noite sem esquecer o Nino, decidi comprar os pios que o Zé Pião vende na feira.  Aqueles de madeira.
A partir de amanhã vai acontecer a maior sinfonia que essa vila já ouviu e não ouviu. Eu e o Nino vamos piar os pios-passarinhos até que a Firimina  também mude a ideia dela e faça o passarinho aparecer de cantar de novo. Vai ser o milagre de São Francisco que eu jurei para Nino que acontecia.  Se ele prometesse me dar o passarinho...

 (setembro/2013)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Sexta-feira: o que será?



Sem tevê, ler!
Sem te ver, escrever!

Dormir sem luar
Partir sem chegar
Ir ao não lugar
Encontrar ninguém

Para amar o amado?
Esperar o sábado
Mas ele não vindo:
Amanhã é domingo 



Inércia

O vaso de cerâmica cor de vinho está há anos no mesmo lugar
O objeto artesanal espera Iná precisar de aparador para servir o jantar da família

Iná está sentada à mesa  esperando o futuro que lhe avisaram que um dia ia chegar

O quadro, cheio de poeira
Natureza morta
Na parede defronte
Foi presente do casamento desfeito

A sopa espera o futuro para esfriar
É silêncio em casa

E, no entanto, já caíram as folhas e cresceram os cabelos
O futuro que Iná esperava já chegou
Sem a algazarra das crianças, o cheiro do cozido, as histórias que inventou
Para contar às meninas de camisola

E teimou em repetir o passado
Iná sozinha
O vaso, o quadro

Iná, à mesa, segura o lápis com força, as mãos tremem para começar a contar a vida que imaginou para si


Mas que se esqueceu de viver

(2005) 

Despertar




Como esconder o que restou da história
O que adormeceu em mim, o que renasceu em você na madrugada?

Como cantar o sentimento
Se toda canção nasce do alento
E qualquer sonho, antes de se tornar real,
É ilusão e mais nada?

Bom é poder semear o sonho
Com os pés firmes no chão
A tempo de poder assistir
Ao raiar tardio da canção

E ainda antes que o sol amanheça
Despertar a rima para o menino
Pois, afinal, tal qual o sonho
(quem duvida?)


O futuro é divino.

(2006)

Tempo de nada entender


De onde vem tanta saudade?
Onde estou que não aí?
Por que não confessei te amar?
Por que não escolhi fugir?  
O que não pude mostrar?
O que não demonstrei sentir?
Que chance não te pedi?
Que conselho não ouvi?
Que fato ousei contestar?
Será que eu só me iludi?
Que carta  não te escrevi?
Que prazer não soube dar ?
Pra que tentar evitar?
Por que tentei existir? 
Posso ir aí te buscar?
E se eu, de fato, partir?
E se eu nunca mais sonhar?
Em que é que eu não te entendi?
E se eu te der o luar?
E se eu não me arrependi?
Do que você teve medo?
E o que eu não soube suprir?
Por que eu quero me entregar?
Do que eu não te convenci? 
O que é que eu achei que sim?
Por que não enxergo o fim?

Arpoador

Nessa manhã caminhei com o que preciso deixar instalado dentro de mim

E é como se tudo estivesse tão mais bonito do que sempre...

Como dói a beleza do mar!

Não há lágrima que possa lavar a alma de mulher que abandona
O lar onde plantou seus sonhos
Em vão
Minhas lembranças e minha saudade do futuro

Doem a dúvida e a insegurança
E nunca mais se chora como criança

Há o que eu prefira calar

Para que toda gente me entenda 

(2005)

Coisas



Coisa na janela é flor
Coisa perfeita é abraço
Coisa no salão é serpentina
Coisa que coça é catapora

Coisa lá fora é vento
Coisa no relógio é hora
Coisa indecisa é mola
Coisa que não sossega é tempo

Coisa que faz tintim é taça
Coisa que diz fonfon é buzina
Tererê é aquela coisa na trança
Chose é qualquer coisa na França

Mas isso não é coisa que se faça
Amor não é coisa que passa
Mágoa é coisa amarrada

Coisa alguma se compara
Ao poema - ou coisa que o valha
Que finda seco sem a coisa revelada


(2013)

De hora em hora Maria chora

Será que ela chora
Pelo amor fugidio
De medo ou de frio
Chorará agora?

Vai dizer que chora
Porque perdeu o que tinha
Mas já chorava antes
Quando ele não vinha

Há de ter qualquer motivo
Para o choro triste
Que Maria insiste em nos obrigar

Há de haver uma causa:
Paixão ou saudade
Arrependimento

Que outro sentimento
Faz, nesse momento,
Maria chorar?

Cansou do emprego?
Recebeu notícia?
Teve insônia, febre?
Viu assombração?

Bateram-na a porta
Feriram-na a alma

Perdeu o juízo?

Perdeu a razão?

 (2006)

Enquanto ele dorme


Devagarzinho faço nos seus cabelos carinho
E tento arrancar dos anjos os segredos
Meus que lhe contaram
Antes de amanhecer no quarto

Aqui
Acordam em mim  as canções
No mesmo instante em que construo para depois
Uma casa cheia de frutas na mesa e crianças parecidas com você

Na sua janela
Um passarinho
Espia dentro o nosso ninho
E enxerga com olhos de Deus
E em teus cabelos faço carinho
Esperando que meus sonhos despertem os seus


 (2005)

Menina na calçada

Em dezembro dorme o inverno
Em algum lugar bem longe de cá
Se sabe impotente diante da beleza das garotas de Ipanema, Terceira Ponte, Guarujá

Um dia simplesmente aporta
E arranca da gaveta os casacos de lã, as botas e os cachecóis
E faz filhos por aí debaixo dos lençóis

No Leblon,  a alma da menina está com o inverno a sós
E suspira por um chá da caridade alheia

O vento, os cabelos da menina penteia
E seu corpo estremece diante de nós
No chão por onde passo todos os dias
Com os pés forrados de sapatos

Mas é como a um filme que assistimos
Espectadores da vida somos

Sigo voltando pra casa vestida de lã
A menina de short está muda na calçada
Contra a morte ela dormirá perto de mim, o corpo gelado
E mais nada.
Hoje, amanhã e sábado




Escrever, publicar, vender



Deu vontade de novo de tirar os escritos da gaveta. Escritos de anos inéditos e pouco lidos. Vou revirar os cadernos, as gavetas, as pastas. Chega de deixar as palavras embolorando. Que eu possa escrever cada vez mais depois disso.

Publiquei meu primeiro livro em 2011.  Esse é o convite que a editora fez para meu lançamento no Salão da FNLIJ. Cheio de crianças. Foi uma festa. E o dia 13 de junho de 2011 foi  realmente marcante, o dia em que, depois de 30 anos escrevendo praticamente todos os dias, me senti escritora de verdade. Parece bobagem, e acho que é. Então a pessoa escreve, escreve, escreve a vida toda, e só depois (e só porque) que publica seu primeiro livro é que acha que é escritora? É isso, mas é uma bobagem legítima. Porque escritor é quem escreve livros, não quem escreve diários, textos que emboloram na gaveta e poemas a que nem os próprios musos inspiradores têm acesso. Não. Escritor é quem escreve porque escreve. Porque respira. Porque nasceu. Mas publicar é doce. E não publicar é amargo. Taí a diferença para o escritor.

Meu primeiro livro ainda me levou para uma escola, o Colégio MV1 de São Gonçalo/RJ, que adotou o livro em duas turmas de 3o ano. E me levou também para a Feira Literária da Unidade Humaitá do Colégio Pedro II. Quanto às vendas em livrarias, não foram muitas. Muitos exemplares devem estar embolorando no estoque da editora. Isso é uma pena, mas é a realidade do mercado de livros. Todo mundo sabe que as livrarias só compram das editoras livros que vendem que nem água, e não que nem livro. São muitos e  muitos livros que nunca são apresentados ao leitor que visita a livraria. É preciso um Salão do LIJ ou uma Primavera dos Livros para que uma produção editorial chegue ao conhecimento do leitor. E, às vezes, nem assim, porque algumas editoras não conseguem participar destes eventos. A adoção nas escolas, quando acontece, é uma coisa bem interessante para o autor e para a editora, mas a divulgação nas escolas é trabalhosa. Ah, e ainda temos as sonhadas compras governamentais.  Enfim, outro dia também me perguntaram se eu vendia meu livro. Respondi assim: "Eu não, não sou vendedora". Outra bobagem, acabei por concluir. Afinal, se somos escritores antes de publicar, não será vendendo o meu próprio livro que serei vendedora consumada. Porque o objetivo do escritor é que o livro que ele publicou seja lido. E, em alguns casos, o que ele não publicou ainda também. Ou não. Há aqueles que devem, sim, ficar embolorando na gaveta. Ou nem chegar a ela, ir direto para o lixo.

 "E com quantos paus se faz uma canoa?" (escrito por Sol Mendonça, ilustrado por Carla Pilla e editado pela Gryphus) está à venda no site da editora e nas livrarias físicas e virtuais. É só encomendar!