sábado, 21 de setembro de 2013

Canto de encantar passarinho


Um dia o passarinho desapareceu de cantar.  O mais cantador da vila. Todo mundo queria. Até a Firimina e eu. O Nino, que era o dono, chorou. Mais de mansinho, um soluço quase mais desaparecido que o canto do passarinho.
Quando ele quis ver, Firimina mentiu. Disse para a vila toda que “o bichinho estava morrido, tinha sofrido nada, não, bobinho!” Mas enterraram no lá longe para aquela alma perdida não vir cantar e assustar a gente da casa. Foi aí que Nino não prendeu a resposta na boca. Soltou um grito tão alto que fiquei ouvindo por três dias.
-  Mas era tu que vivias dizendo que não gostavas dele, Firimina! Eu gostava que ele cantava pra mim!
Só que era mentira da Firimina. Foi ela que colou, com cola de marinheiro, o bico do pobrezinho. Deu nó nas asas e nos pés do passarinho. Cantar ele não podia mais!  Muito menos dar pulos de lado quando via o dono menino alegrado.
Depois da terceira noite sem esquecer o Nino, decidi comprar os pios que o Zé Pião vende na feira.  Aqueles de madeira.
A partir de amanhã vai acontecer a maior sinfonia que essa vila já ouviu e não ouviu. Eu e o Nino vamos piar os pios-passarinhos até que a Firimina  também mude a ideia dela e faça o passarinho aparecer de cantar de novo. Vai ser o milagre de São Francisco que eu jurei para Nino que acontecia.  Se ele prometesse me dar o passarinho...

 (setembro/2013)

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