terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Mar, de Minas


Esses mares de Minas ...


Olho, me parecem montanhas


Seriam: não tivessem ondas, não fossem azuis


(Fotos: Márcio Sodré)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Abraço de sanhaço



Abraços são braços dando um  laço. 
Laço é azul amarrado em pedaço. 
Pedaço é traço do abraço. 
Traço é braço fora do abraço. 
Braço é despertar de abraço. 
Despertar é abraço que amassa - antes de ser afrouxado. 
Afrouxado é casal antes de amasso. 
Amasso é abraço de sanhaço.

E quem souber imitar canto de sanhaço ganha amasso e abraço.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Morrem espaços de leitura, morrem leitores


Em 2011, as livrarias do Rio estavam desaparecendo como estrelas em noites chuvosas.

Em 2015, algumas bibliotecas públicas do Rio estão sendo fechadas. Outras terão seus horários de funcionamento reduzidos.

O que será de uma cidade que não ama seus espaços de leitura?

O que será de um povo que não é respeitado no seu direito de emprestar e comprar seus livros?



Uma porta que se fecha
Porta para dentro dos livros
Fresta para a letra viva
Festa aberta das palavras

Uma breve narrativa
Encerra a porta fechada
A história interrompida
É uma festa que se finda

É uma letra-estrela que vaga
Narrativa que é ainda
Uma outra estranha festa
Da palavra desusada

Não saberão os meninos
Como rimar os momentos
Não saberão as meninas
Como driblar sentimentos

Como resolver o teorema
Desta vida que se encerra
A alma que não se empresta
Da porta que ora está morta

Uma porta que se fecha
Porta para dentro dos livros
É a memória desnutrida

Morte e letra severina
É o cerro da corrente
Da sina da língua viva


 Fevereiro de 2011. Quando a Letras & Expressões foi fechada.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Ponto de vista



Chegou o dia. Sala vazia. Malas trancadas. Janelas abertas para o Jardim Botânico. Pedro, acostumado às chegadas e partidas do pai, que pelo que podia lembrar, sempre morara em Nova Iorque. 

Em Manhattan, é o pai que agora espera por eles - Pedro, Matheus e a mãe deles. Não é viagem de férias como as outras. É mudança. Pedro olha. O Brasil, a família, os amigos da escola, os vizinhos, a rua, a Lagoa.

 - Mãe, e agora? Tudo acaba ou tudo fica? 




(27/10/2015, para Jacqueline, Pedro e Matheus)


Flicts

Se o mar fosse amarelo

E o céu fosse lilás

E a folhagem, cor de rosa

E o sol, verde-esperança


Se as raízes fossem roxas

E as nuvens, azuis-piscina

E a areia, cor de abóbora

E a Terra, violeta


E se as cores do arco-íris

Não tivessem cor nenhuma

Ainda assim, a lua seria Flicts

(28/10/2015)

Se o mar


Se o mar não sorrisse

Se o mar não sentisse

Se o mar não sonhasse

Se o mar não quisesse

Se o mar não ficasse

Se o mar não joiasse

Se o mar não derramasse o seu amor


Talvez o sol não nascesse

O sol não raiasse

O sol não brilhasse

O sol não dourasse

O sol não pulsasse

O sol não criasse

O sol não derramasse o seu calor

(28/10/2015)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Amor no mar

Foto: Tamiris Barcellos


Não espere de mim que eu minta
Não espere que eu nada sinta quando você tocar
Para mim (em mim)
Essa coisa boa 

O amor no mar é azul

Não espere que eu seja outra (a outra)
Não demora que eu fico rouca (louca)

O amor no mar é azul

Não condene se eu sonho à beça
Não devore com tanta pressa 

O amor no mar é azul

Não perdoe os meus defeitos
Não me cobre os seus direitos

O amor no mar é azul

Não espere que eu te desculpe
Não espere que eu não te culpe

O amor no mar é azul

Não repare que eu choro pouco
Não repare que eu minto um pouco

O amor no mar é azul

Não espere que eu me disfarce
Não impeça que eu me cale

O amor no mar é azul

Não relembre o seu desquite
Não estrague a nossa noite

O amor no mar é azul

Não regule minha metade
Não traduza minha verdade

O amor no mar é azul

Não controle os meus caprichos
Não evoque os meus demônios

O amor no mar é azul

Não provoque os meus temores
Não persiga os meus amores

O amor no mar é azul

Não confunda os meus conceitos
Não detone os meus trejeitos

O amor no mar é azul

Não regule nem mais um beijo
Mas não sacie todo desejo

O amor no mar é azul
Azul, azul, azul


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Lua Branca

Oh, lua branca
Já vou ser breve
mas, esta noite,
Por que me segue?

Na estrada negra
Deserta e quente
Só a lua branca
Persegue a gente

Oh, lua branca
Te acho estranha
Lua envolvente
Você me assanha

Ó, lua branca
É o que sinto:
És muito bela
Nisso, não minto

Ó, lua branca
Se minha fosse a estrada
Seria sua a festa
Nessa madrugada

Lua redonda que se insinua
Neste poema e continua
A me seguir
Na estrada nua

Narro o que vejo
Te emoldura um sol
E os dois me guiam
Como um farol

Está aí ainda, lua insistente?
Até aonde vai, lua carente?

Lua ardilosa
Eu desconfio
Você me engana
Ou eu te crio?

Está cá comigo
Seguindo viagem
Mas não existe
É uma miragem

É nova a estrada
Minguante a vida
Ó, lua cheia
Não há saída

Ó, lua branca
No céu tão alta
De manhãzinha
Me fará sua falta

Só mesmo não entendo
Em que parte está
Você vai comigo
Até onde eu chegar?

Ó Lua branca de primavera
Roubou meu poema
Quer ser mesmo eterna?

Então, me responda
Se é essa sua sina
Pela estrada afora
Seguir a menina?

(2012)

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Ah, periferia


Como eu queria, periferia, que não te ferissem mais



Periferia, eu preferia que todos a vissem assim



 Se eu pudesse te contar, seria apenas essa a minha crônica de ti

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Tomara

Tomara não pense muito
Tomara não pese nunca

Tomara valha a demora
Tomara que possa tudo

Tomara não canse a espera
Tomara não se aborreça

Tomara caiba na rede
Tomara a poesia cresça

Tomara o medo me esqueça
E a entrega prevaleça

Tomara um monte de coisa
E tomara que aconteça

Tomara que a vida ande
E o riso permaneça

(29/08/2015)

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Lenda, Lenda

Quando você redescobrir o Brasil
Não tenha medo de bicho grande que voa
Nem de montanha que anda
Nem de gente que tem olhos no mar
Quando você redescobrir o Brasil

Quando você redescobrir o Brasil
Não tenha medo de comer algo que pula da árvore
Não vigie os ouvidos para que não entre choro de Pixinguinha
Não evoque todos os santos, receba os orixás com os mares, os ventos e os luares abertos
Quando você redescobrir o Brasil

Quando você redescobrir o Brasil
Prepare-se para mexer o taxo de goiaba madura
E o taxo de banana madura
E o taxo de leite no seu caldeirão de cobre
Não para que vire doce,
Você vai ver que o nome dessa receita é felicidade
Quando você for redescobrir o Brasil

Quando você redescobrir o Brasil
Abandone os sapatos
Para andar pelos grandes sertões e pelas veredas
Abandone as horas
Quando for ler os muitos os que você precisa ler
Quando você redescobrir o Brasil

Quando você redescobrir o Brasil
Aprenda a língua dos riachos
Pinte o corpo para dançar
Coma desprezando colher
Alias, por favor, desinvente o talher
Quando você redescobrir o Brasil

Quando você redescobrir o Brasil
Espere o breu da noite acender as estrelas
E tente acender o fogo com as mãos
Deite-se em comunhão com os seres que chegarão sem serem vistos
Para ouvir os seus pensamentos
Quando você redescobrir o Brasil