Ontem fui premiada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), a sessão brasileira do Internacional Board on Books for Young People (IBBY-Unesco), na categoria Relato Real da décima quinta edição do Concurso FNLIJ Leia Comigo!.
O prêmio são livros de literatura infantil e juvenil, além de um papel valioso garantindo que não era sonho. Vou ler os livros e depois pretendo fazer circular por crianças e jovens, não sei ainda quais nem quando nem como.
Boba, Realizada e dos Livros com meu prêmio |
Para mim o prêmio maior foi ter sido vencedora de um concurso promovido pela FNLIJ. Essa casa de livros para crianças, pioneira em projetos de incentivo à escrita literária e resistente a qualquer tipo de golpe e que sempre respeitei. Há quase 20 anos, a FNLIJ faz um evento, este Salão, dedicado somente aos livros infantis e juvenis. O de 2017 já está marcado. Vai ser entre 31 de maio e 11 de junho.
Eu sempre quis trabalhar na FNLIJ. Era assim uma espécie de quimera de que passaria o dia lendo o que "as pessoas que faziam o que eu queria fazer" escreviam. Quem sabe eu seria como elas. E teria os meus livros Altamente Recomendáveis pela FNLIJ.
Certificado de Vencedora do Concurso Leia Comigo! 2016 |
Me lembro que "descobri" a FNLIJ quando escrevi o texto Doroteia cheia de ideia. Era 1998, século passado. Naquele ano, depois de eu ter escrito compulsivamente por quase 20 anos (eu tinha 24 em 98), comecei a pensar que seria escritora, profissionalmente, um dia. Fui à Biblioteca Nacional registrar o meu texto, com medo de que alguém roubasse e publicasse. E a Internet nem era essa coisa toda...
Em seguida, fui ao escritório da Fundação, que também fica no Edifício Capanema, para "me inscrever" como autora. Achei que era assim. Não era. Me explicaram o que a Fundação fazia, me associei e recebi o Notícias da FNLIJ por vários anos. Em 2001, fui lá fazer pesquisa para minha monografia sobre os livros da Clarice para crianças.
Considero que em 1998 comecei a sonhar com o que se concretizou em 2011. O primeiro livro publicado: E com quantos paus se faz uma canoa? (Il. Carla Pilla, Gryphus). Estreei com poesia e o primeiro lançamento foi... onde? onde?... Na Biblioteca FNLIJ para crianças, no Salão FNLIJ!
Convite do Lançamento do Canoa no Salão FNLIJ, em 2011 |
Na época, a Carla Pilla, que é gaúcha, estava morando no Rio e nos encontramos para pensar uma ação que envolvesse o nosso livro para o lançamento. Fizemos uma coisa única e sensacional naquele dia, remontando o poema do livro junto com as crianças com base nas ilustras da Carla, que misturam colagens de objetos, fotos e grafismo.
Carla Pilla e eu no estande da editora Gryphus |
Lançamento do Canoa na Livraria Argumento |
Voltando uns capítulos da história
Em 1998, comecei a escrever também um juvenil para falar de uma separação amorosa, exorcizar a mágoa e o trauma de uma traição. Escrevi umas trinta páginas e abandonei sem terminar.
Dez anos depois, como aluna do ateliê de escrita na casa de Vera Bensalah, durante o processo para escrever um romance, botei na roda Luísa, Marina e Beto, meus personagens do juvenil, e decidi encarar a literatura juvenil.
Consegui terminar em 2009, com a valiosa ajuda da Verinha e também de Flavia, Liége, Marília, Ana Adélia e Ricardo Sérgio.
Marília, Ana, Vera, Teresa, Flavia e Liége. Foto: Rico |
Este texto tem sabor de suor. Transpiração. O que era um processo de superar uma dor de cotovelo da adolescência passou a ser um processo de descoberta de técnicas de escrita literária, de reescrita, de edição, de desapego e crescimento.
Descobri a escrita consciente, da busca pelo texto enxuto e preciso. Amadureci e aprendi muito com a Verinha Bensalah e este grupo do Ateliê. Obrigada eternamente a vocês e à Claudia Miranda, que me convidou para o Ateliê de sua prima e amiga Vera.
Entreguei o original cheia de confiança para a Luciana Bastos Figueiredo, que em 2009 editava juvenis com sucesso. Ela me chamou para um chope em 2010, quando já tinha saído da Rocco, para me dar um feedback.
Em 2011, Luciana levou o original ainda sem título (a gente chamava de "Luisa") para a Gryphus. Junto, eu tinha enviado um poema simpático chamado Matemática. Achava que podia dar um livro. E deu. Com o título E com quantos paus se faz uma canoa?.
O Canoa teve seu ciclo completo porque foi adotado pelo Colégio MV1, em São Gonçalo. Peguei o coração na mão e fui lá assistir ao trabalho feito pelas crianças do Segundo Ano do Ensino Fundamental. Emoção até os dentes.
Meninas: "Com quantos pliés nasce a bailarina?" |
Os meninos também pediram uma foto só com eles |
O juvenil já tinha esperado 10 anos. Podia esperar mais três. Foi lançado em 2014 com o título Depois a gente vê como fica. Este foi o meu quarto livro publicado em três anos de carreira, se posso considerar que já tinha uma.
Depois a gente vê como fica, com ilustração em objetos de cerâmica da incrível Gláucia de Barros, teve lançamento noturno na Livraria Blooks do Rio.
Convite para noite de autógrafos do Depois a gente vê como Fica, na Blooks |
Beto, Marina e Luísa na cerâmica de Gláucia Barros |
Esse foi também o meu quarto livro editado pela Luciana, que foi quem me apresentou como autora estreante para a Gryphus e também para os editores que lançaram o Depois a gente vê como fica, o Lá no Meu Quintal e A Recontadora de Histórias. Já falei da Luciana no post sobre o processo do Quintal.
O Quintal foi lançado em dois dos meus quintais favoritos do Rio. O primeiro, no Forte de Copacabana, e o segundo, no Parque das Ruínas, em Santa Teresa.
Convite do segundo lançamento do Quintal |
Realidade e Ficção
Desde pequena escrevo memórias e conto a vida nos meus diários. Aos 12 anos, escrevi um romance - Pedacinho de Saudade. Mas depois voltei aos diários e só aos 24 anos comecei a me dedicar à ficção. Acabei estreando com poesia, um gênero literário que demorou, mas me capturou sem que eu percebesse, depois dos 30. Hoje acho que escrevo prosa e poesia com a mesma facilidade, ou dificuldade, e intensidade.
O processo da Recontadora foi parecido com o do Quintal. Enquanto este foi escrito a partir de uma lembrança do ilustrador Agostinho Ornellas, o Recontadora é baseado nas memórias de uma amiga amapaense, a Lúcia Morais, contadora de histórias e mediadora de leitura incansável. Lúcia e sua avó Ana são minhas personagens reais.
Esse livro tem um gostinho especial. Com ele, caiu a ficha de que eu sou uma profissional do fazer literário. O Recontadora é um divisor de águas. Depois dele, fui chamada para conversar com leitores em eventos literários e lancei o livro na Biblioteca Municipal de Duque de Caxias.
Convite do evento de lançamento em Caxias |
A Recontadora de Histórias reafirmou o meu caminho de misturar o relato real e o ficcional, como no Quintal, e que repeti agora, com o Menino Maluquinho e a menina dos fósforos.
Com Lúcia Morais, no lançamento em Duque de Caxias |
Fiz também uma tarde no Museu do Índio no Rio, dividindo a mesa com o querido Marcelo Aouilla. Foi a primeira vez que vi mais gente desconhecida na fila de assinaturas, gente que comprou o livro para ler e não por ser o livro da filha ou da amiga.
Assinando exemplar no Museu do Índio, em Botafogo |
Lançamento regado a contos da Tradição oral indígena |
Um mês depois, outra surpresa: Luciana me avisou que a Livraria Blooks de São Paulo tinha oferecido uma data.
E rolou lançamento na Blooks Livraria de São Paulo |
Isso não foi tudo. A atriz e contadora de histórias Benita Prieto fez uma ponte com o Instituto Ekloos e uma parte da renda com a venda dA Recontadora foi revertida para ajudar a montar a nova biblioteca da Comunidade dos Tabajaras, em Copacabana, coordenada pelo Alex Azevedo, o Lequinho, a própria Lúcia Morais e a Trupe PequenAlegria, de mediadores de leitura e contadores de histórias. Isso é uma alegria muito grande porque pra mim os livros têm que chegar a todo mundo, a criança de Botafogo, Santa Teresa e do Leblon e a criança de São Gonçalo, de Caxias e do Tabajaras.
Recontadora me deu muitas alegrias |
Nesses cinco anos, a minha vida mudou. A minha vida tomou um rumo. Eu sempre soube de onde vinham as histórias, mas agora eu sei um pouco para onde elas estão indo.
Há de se agradecer a tanta gente que tenho medo desse post virar lista.
Obrigada, Vera Bensalah, Ninfa Parreiras, Suzana Vargas e aos irmãos do Vaca Amarela e da Família Literária da Estação das Letras. Não posso terminar sem antes dizer que dividi a alegria desse prêmio com duas colegas e irmãs que fazem comigo a oficina de escrita para crianças e jovens da Estação das Letras, com a Ninfa, e que ganharam o Concurso na categoria de Relato Ficcional, as queridas Antonella Catinari e Juliana Borel. Se elas deixarem, vou publicar o texto delas aqui também.
A Grande Família Literária e Ninfa, ontem no Salão |
Um viva a todos os escritores e poetas brasileiros que fazem parte da minha formação como leitora e como escritora. Citarei aqui apenas um: Bernardo de Mendonça, autor de um dos livros que vivo relendo, o Romance da Onça Dragona (Il. Pink Wainer, Graphia Editorial).
Altamente Recomendável.