Lina não conhecia o mar.
Desde pequena, morava no mesmo lugar: na praça, pertinho da escola, da igreja, do correio, do Boteco do Carioca e da banca
de revistas.
Na banca Lina descobriu o mar. Correu no Boteco do Carioca e perguntou
como era o mar. Ele contou com palavras. Lina achou o mar de Carioca triste.
Carioca disse que o mar estava ali perto, garantiu que atrás da montanha
tinha uma estrada que dava no mar.
Lina sonhava com as cores do mar, a música e o perfume do
mar.
- Que gosto tem o mar, Carioca?
- Gosto de lágrima, Lina! Que saudade do mar...
- Que saudade de ir conhecer o mar...
Os outros riam.
Um dia, Carioca chamou Lina e disse que um amigo estava chegando do Rio e vinha trazendo o mar.
Lina foi para casa animada e não conseguiu dormir bem. Ansiosa, viu a Noite
ir embora, serenamente, pela janela de seu quarto e o Dia chegar trazendo a
brisa que desaparecia o orvalho das folhas.
O riacho que passava atrás da casa de Lina cantarolou uma cantiga de sua
infância. Era bonito, mas e a música do mar? Seria igual ou mais bonita do que
aquela?
Em uma tarde, quando já não esperava mais, um homem e seu filho
chegaram ao Bar do Carioca. O pai, barbado e de chapéu, sentou-se e pediu um copo. O filho, logo que Lina reparou, estava sorrindo. E convidou-a para ouvir histórias.
O pai tirou um vidrinho de dentro da bolsa e disse que era o Mar. Lina
olhou de olhos arregalados que, em seguida, murcharam.
- Então o mar é isso?
O menino co(n)chichou perto do ouvido
dela.
- Pra ouvir o mar, você tem que fechar os olhos.
Então ela obedeceu e sentiu uma coisa fria encostar em seu ouvido. Aí ouviu: Schhhhh, Shchhhhh...
O pai falou dos peixes, das ondas, da espuma, do horizonte e da areia
fina.
O filho falou das ondas também. E de construir castelos e pegar jacaré.
Lina imaginou. Lina sonhou.
Chegou a hora de irem embora. O pai ia levar o mar. E seu novo amigo. Lina pediu para eles
voltarem.
- Quando o mar chegar aqui, a
gente vem pra ficar - prometeu o pai.
Mas o filho disse:
- O mar está dentro de você. Guarde-o, um dia eu volto e te levo comigo.
Difícil foi esquecer o mar. O mar que tinha trazido o menino.
De tanto pensar e falar do mar, começaram a dizer que ela
tinha cismado.
- Eu não cismei.
Um dia o mar chegou quando a cidade toda estava
dormindo.
De tanta alegria, decidiu viajar para buscar o menino.
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