domingo, 19 de junho de 2016

Quando o mar chegar


Lina não conhecia o mar.

Desde pequena, morava no mesmo lugar: na praça, pertinho da escola, da igreja, do correio, do Boteco do Carioca e da banca de revistas.

Na banca Lina descobriu o mar. Correu no Boteco do Carioca e perguntou como era o mar. Ele contou com palavras. Lina achou o mar de Carioca triste.

Carioca disse que o mar estava ali perto, garantiu que atrás da montanha tinha uma estrada que dava no mar.

Lina sonhava com as cores do mar, a música e o perfume do mar.

- Que gosto tem o mar, Carioca?

- Gosto de lágrima, Lina! Que saudade do mar...

- Que saudade de ir conhecer o mar...

Os outros riam.

Um dia, Carioca chamou Lina e disse que um amigo estava chegando do Rio e vinha trazendo o mar.

Lina foi para casa animada e não conseguiu dormir bem. Ansiosa, viu a Noite ir embora, serenamente, pela janela de seu quarto e o Dia chegar trazendo a brisa que desaparecia o orvalho das folhas. 

O riacho que passava atrás da casa de Lina cantarolou uma cantiga de sua infância. Era bonito, mas e a música do mar? Seria igual ou mais bonita do que aquela?

Em uma tarde, quando já não esperava mais, um homem e seu filho chegaram ao Bar do Carioca. O pai, barbado e de chapéu, sentou-se e pediu um copo. O filho, logo que Lina reparou, estava sorrindo. E convidou-a para ouvir histórias.

O pai tirou um vidrinho de dentro da bolsa e disse que era o Mar. Lina olhou de olhos arregalados que, em seguida, murcharam.

- Então o mar é isso?

O menino co(n)chichou perto do ouvido dela.

- Pra ouvir o mar, você tem que fechar os olhos.

Então ela obedeceu e sentiu uma coisa fria encostar em seu ouvido. Aí ouviu: Schhhhh, Shchhhhh...

O pai falou dos peixes, das ondas, da espuma, do horizonte e da areia fina.

O filho falou das ondas também. E de construir castelos e pegar jacaré.

Lina imaginou. Lina sonhou.


Chegou a hora de irem embora. O pai ia levar o mar. E seu novo amigo. Lina pediu para eles voltarem.

-  Quando o mar chegar aqui, a gente vem pra ficar - prometeu o pai.

Mas o filho disse:

- O mar está dentro de você. Guarde-o, um dia eu volto e te levo comigo.

Difícil foi esquecer o mar. O mar que tinha trazido o menino. 

De tanto pensar e falar do mar, começaram a dizer que ela tinha cismado.

- Eu não cismei.

Um dia o mar chegou quando a cidade toda estava dormindo.


De tanta alegria, decidiu viajar para buscar o menino.

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