sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Inércia

O vaso de cerâmica cor de vinho está há anos no mesmo lugar
O objeto artesanal espera Iná precisar de aparador para servir o jantar da família

Iná está sentada à mesa  esperando o futuro que lhe avisaram que um dia ia chegar

O quadro, cheio de poeira
Natureza morta
Na parede defronte
Foi presente do casamento desfeito

A sopa espera o futuro para esfriar
É silêncio em casa

E, no entanto, já caíram as folhas e cresceram os cabelos
O futuro que Iná esperava já chegou
Sem a algazarra das crianças, o cheiro do cozido, as histórias que inventou
Para contar às meninas de camisola

E teimou em repetir o passado
Iná sozinha
O vaso, o quadro

Iná, à mesa, segura o lápis com força, as mãos tremem para começar a contar a vida que imaginou para si


Mas que se esqueceu de viver

(2005) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário