O vaso de cerâmica cor de vinho está há anos no mesmo lugar
O objeto artesanal espera Iná precisar de aparador para
servir o jantar da família
Iná está sentada à mesa
esperando o futuro que lhe avisaram que um dia ia chegar
O quadro, cheio de poeira
Natureza morta
Na parede defronte
Foi presente do casamento desfeito
A sopa espera o futuro para esfriar
É silêncio em casa
E, no entanto, já caíram as folhas e cresceram os cabelos
O futuro que Iná esperava já chegou
Sem a algazarra das crianças, o cheiro do cozido, as
histórias que inventou
Para contar às meninas de camisola
E teimou em repetir o passado
Iná sozinha
O vaso, o quadro
Iná, à mesa, segura o lápis com força, as mãos tremem para
começar a contar a vida que imaginou para si
Mas que se esqueceu de viver
(2005)
Nenhum comentário:
Postar um comentário