quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Não era outra vez


         Escureceu e Teca percebeu que tudo era uma vez. Só uma mesmo. Nunca podia ser duas vezes ou três, muito menos muitas. E tinha que ser uma de cada vez.
  
     Ela já tinha reparado que a segunda-feira também não chegava de novo, e até que isso ela achava bom.  Mas quando se deu conta de que o dia seguinte não era outro domingo, não danou a chorar. Ela era valente! Decidiu pagar pra ver.

     Aí disseram pra ela que o problema era do tempo das coisas. O tempo é que não deixava nada acontecer de novo. Disseram que o mar, a cada segundo, é outro mar. O mundo parece o mesmo, mas é outro mundo.

    - As pessoas também mudam um pouco todo dia, sabia?

    -  Só em livro é que o “Era uma vez” se repete?
 
   - Nem em história, garota! Nunca ouviu dizer que “quem conta um conto aumenta um ponto”? E se a sua avó lê um livro, a história não é a mesma contada pela sua mãe.

     Antes do dia ir embora, Teca resolveu falar com o Tempo.

     - Eu quero falar com Dez Para Meia-Noite.

     - Aqui não tem hora marcada. É por ordem de chegada.

     Teca viu o Tempo passando, e achou-o bem mais apressado do que quando passava pela aula de matemática. Ele não ficava parado e ela corria, corria, mas não conseguia alcançá-lo. Até que aproveitou um minutinho simpático e gritou:

     - Ei, Seu Minuto!

     Mas o danado voou. E veio outro, se aproveitando:

    - Que foi?

    Teca percebeu que eles eram quase iguais, mas não o mesmo.

   Vieram vários segundos, cada um de uma vez, cada um diferente do outro. E quando o dia estava quase indo mesmo pra sempre, ela se colocou na frente do primeiro minuto que se preparava pra entrar em cena e suplicou:

     - Ei, Seu Quase-Hoje, será que o senhor pode seguir o Quase-Ontem e fazer tudo igualzinho amanhã?

    Mas Ele já tinha escapulido.

   Teca se levantou da cama e viu, pela janela, que o Sol que tinha brilhado no domingo cedera lugar no céu a nuvens nunca vistas antes.

(set 2013) 

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