sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Sinais

Foi por um triz que não fui atriz

O teatro foi o primeiro doce, o primeiro bom bocado

O primeiro gozo que eu tive

O primeiro gosto na boca, na alma


Foi o blend do camarim

A primeira farejada

O chiado da plateia fervendo

O cochicho de bicho de coxia


Amatriz eu inventei de ser

No teatro eu me derretia

Feito batom no calor do holofote

Era ouvir o gemido das almas do teatro

E eu me desmanchava na poltrona


Os pés empoleirados nas cadeiras

Eu, arrepiada de susto e de frio 

Procurava qualquer fio de luz no breu

Encolhida de alegria e espanto


A trilha não conhecia

Mas cantava de cor por dias

As vozes do teatro me seguiam até em casa

Era puro assombramento aquilo


Feito gente do passado

Feito coisa viva na memória do que eu era

O teatro até hoje me ronda de dentro pra fora

Feito um fantasma de mim mesma



(09.10.2020)



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