quinta-feira, 6 de abril de 2017

Tudo o que escorre e não seca

Escrevo
Enquanto o sol aquece o chão da minha sala
Escrevo
Enquanto o vento dança atrás da cortina
Escrevo
Enquanto penso em partir ou ser partida

Escrevo dia sim e noite também
Escrevo para libertar os dogmas
Abreviar ressentimentos, assegurar sonhos
Por tudo o que escorre e não seca

Minha vida se resume a criar vontades irrealizáveis
Escrever de manhã como se a tarde não chegasse
Ter um vulcão a lenha
Plantar vontades no quintal
Usar minhas asas sem causar inveja nos outros pássaros
Viajar e me demorar a voltar ao ponto de mudar a vista
Ter alegrias sem precisar de moedas estrangeiras
Amar com amor próprio na despedida
Ver a minha avó
Dirigir até a Lua com meus sobrinhos na garupa da moto-foguete

Escrever é coisa de quem não tem nada de útil a fazer?
Coisa que se faça por ser?
Escrever é o único verbo que me responde para que serve minha vida
Mesmo que eu escreva todos os dias sobre coisa alguma que lhes interesse

Não tenho que responder nada enquanto escrevo e o assoalho ferve, o vento esbanja assobio, a cortina mexe a saia, os cabelos crescem.
Enquanto escrevo o tempo passa e meus desejos escorrem do pensamento e sossegam.
Penso na minha avó e em não voltar da Serra, em dar asas aos meus sobrinhos, em salgar as vontades, em dirigir minhas viagens.

E amar a Lua sem pressa.

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